II - Que legal! Daniel se encontrou!

E a vida é assim mesmo, mas felizmente Daniel se encontrou. Nas idas e vindas com o cansaço...
Desenhou ele próprio indo à estação de trem, gostou muito da idéia, imaginou ao fundo Oswaldo Montenegro, bem de leve. Era a vida que queria. Entrou às duas no elevador com cartolina e hidrocor. Ninguém entrou durante duas horas e ele pra cima e para baixo. Era quase todo final de história... despedido. A vida em círculos... desenhando várias paradas e estações, em volta de um mundo, em círculo, em círculo. Encontrava ursinhos peludos e topogãs de girafas. Viajava sempre, sempre.


Boa noite Churruminos, bom dia Sr. Rei da Vila.

E em cada estação era ela que o recebia com flores e um shortinho de algodão. Em cada poste pela janela uma nova garrafa à mesa. Cortesias do rei da vila... rá rá rá rá. A vida vai adiante se no trem é lugar para se ser feliz. Rá rá rá.

E sábado eu vou, eu vou...

PRIMEIRA PARTE
Sentado no quarto numa tarde de sábado enquanto seus amigos foram a uma festa num lugar em que não freqüenta. O dia vai escurecendo, a idéia clareia e vem:

Antes que a loja feche buscar aquele disco para passar a noite.

Depois de uma hora e meia senta num bar com a compra, o último do Oswaldo Montenegro.

Uma cerveja...

Seis cervejas depois, uma e meia da manhã. Telefona para ela.

Onde está você?

Ele sabia que ainda estava na festa.

É muito difícil dizer, mas de uns anos pra cá sei que só funciono quando bebo; sem beber é melhor ficar sozinho. Só bêbado consigo dizer a quem amo que amo, e sei que amo mais mesmo depois de beber; não que não ame antes, mas estrago tudo sóbrio... À tarde ela me ligou e insistiu, eu não quis, e não queria mesmo, era muito esforço.

A verdade é que ele ama tanto que não dá conta; bêbado dá e diz, e faz.

Bêbado abro os braços e digo que amo; na maioria das vezes nem sabem que estou bêbado e as coisas funcionam, a vantagem, poucas pessoas sabem quando já bebi. Noutro dia estava com ela tomando meio copo, daqueles de requeijão, pinga branca e Joanna pensou que era água, andava tudo certo. Sei que pensou que era água porque senão teria me xingado bem antes de sentir o meu hálito quando foi me dar um beijo. Tinha ido à adega dela sem ela ver.

A idéia de comprar Oswaldo Montenegro já vinha havia muito tempo, foi uma tentativa de voltar a ser feliz e amável antes de beber, propositadamente. Comprou Oswaldo Montenegro para tentar ser feliz. Já tinha tentado outras coisas; a terapia do riso por exemplo, consiste em: acordar e conseguir não abrir os olhos; obtido sucesso começa-se a rir o máximo que puder até se sentir bem, não parar enquanto não se sentir bem, diariamente. Tentou fazer ginástica também, tentou outros vícios, tentou cuidar de plantas, colecionar.

Até hoje a bebida só me trouxe coisas boas, antes de beber era difícil. Fico pensando nos momentos bons que ela já me trouxe e que eu já perdi sem ela, não foram poucos.

Em seu trabalho de ascensorista é tudo bem mais fácil.

Décimo primeiro, décimo segundo... aqui é meu castelo, daqui eu controlo vários metros, de alto a baixo, de baixo ao alto. Ai se a vida pudesse ser sempre esta vida em vertical. Odeio as oito da noite quando tenho que voltar pra minha vida horizontal; e enquanto eu subo e desço em qual abscissa você anda?!

Tem aftas quase constantemente em sua boca, perdeu grandes paixões pela falta de memória que irritava. Perdeu o amor que deixou o seguinte bilhete: Eu te amo, mas mudou, não me procure mais... Em outras palavras: como vai a cor do seu cocô, rapaz? Você emagreceu bem; queria que fosse tão bonito quanto antes quando ficava nu. Como vão seus intestinos? Como vai o tônus muscular? Cuidado, você já está quase sem amigos, você está cada dia pior, as costas entortando; poucas pessoas ainda têm paciência de tentar entender você. Eu amo, amo você e quero que esteja bem nos próximos 20 anos pelo menos; mas não vamos nos ver mais......Cuidado com os comprimidos...
Sabe todos os que são para fazer sair do ar e dormir; contra alergia, febre, enjôo...; infantil, adulto, ervas... mas em ervas não confia muito pois parte do principio que remédios que não têm contra-indicações não fazem efeito. Quem inventa um para alegria? rá rá rá.

Ninguém sabe das noites que eu passo...

Bebe.

...

A vida já foi fácil?

...

Hoje você vai a uma festa! Que bom rapaz.
Convidaram para uma festa, insistiu em não ir, mas foi a um magazine, comprou uma roupa, um sapato e foi. Ficou até as sete e quarenta da manhã, entrou no elevador cinco para as duas sendo o seu horário duas. O elevador foi um útero neste dia. Só ouvia números e boa tarde; não sabia o que dava mais alegria, os números ou os boa tardes.


Oito horas e, puta que pariu...

Noutra vez para fugir da sua cabeça, com ela no carro estacionado, um dia de muita chuva; apagou o cigarro no braço esquerdo na parte de baixo do bíceps, fez uns pontos, quando olha a cicatriz pensa ter feito o desenho dela.

A vida é doce e as pessoas precisam saber disso.
A vida é doce e as pessoas precisam saber disso.

...

Queria saber como as pessoas conseguem ficar amigas dos garçons, gente que freqüenta aqui há tanto tempo menos que eu chegam e já estão em casa, o garçom é amigo e eles brincam. Eu chego e o garçom me serve. Podia o garçom me amar tanto quanto ama esses caras.

Fez uma brincadeira na próxima cerveja, o garçom não entendeu deixou a cerveja e voltou.

Nos motéis do centro da cidade uísque é barato, quando batia o sino e eu rodava o balcão giratório, ele era para mim um altar. Impossível explicar a sensação. Impossível esquecer dela sempre quando passo nas portas, vários. Conhecemos tantos que uma vez tive idéia de escrever um GUIA DOS MOTÉIS DO CENTRO DA CIDADE... ela brigou com a minha idéia... Os alpendres pequenos, uns quartos sem janela, o chão queimado de guimbas, os chinelos 41/42 gastos no pé das camas com colchões revestidos em courino, a suadeira, o banho. O sabonetezinho que eu sempre levava para casa, que gostoso! entregar a chave pela grade, descer a escada íngreme e sair. No pior deles um senhor de jeans e chinelo de borracha era quem cuidava, chegamos com ele lendo uma Bíblia Sagrada, continuava lendo duas horas depois... mesmo com aquela gritaria? Lembro de um sorriso delicado na sua cara. Era lindo. Era aquilo.

...sempre achou horrorosas pessoas quase sem queixo.

Outro dia vi um homem sem queixo; comentei num recado no celular. Ela respondeu.

Ironicamente; fez questão de dizer que estava acordando e na casa de um amigo. Rá rá. Sofreu pra burro às 10 da manhã. Bebeu pra burro 10 e 15; chorou pra burro 11. Recuperou? Sei que ele queria que ela soubesse que ainda a ama de verdade, que ele soubesse que a ama de verdade e que todo mundo soubesse; tudo, tudo fosse diferente. É difícil tomar tanto gim.

Sei que agora, a qualquer momento ela pode estar na esquina, no centro, no bar, no Rio, na roça, na China... queria muito ver você de novo. Deve estar querendo ver outro.

Mulher.

...

Entra na mercearia, vê o picolé!

Puta merda! Anos não vejo um picolé! Que legal! Um picolé! Que bom! Será que tem palito sorteado!
- Um Chicabom de chocolate!
Cabeção! Cabeção!

Lembrou do apelido de infância...!

PARTE 2

Contrito?
Está chovendo, molha as plantas e elas ficam felizes. Ele sente neste dia falta dela no corpo.
Além disso as costas cobram o movimento do quadril entre suas coxas.
Tadoma por outras vias...
Bar, que diferença do mar, não dariam certo em grau. Numero e gênero é que foi o ideal. A tentativa de fazer um poema onde ela após ler voltaria ao lar, rá rá rá... Ele está sentado num parque de diversão, aliás, eu estou sentado num parque de diversão, se parque de diversão é um lugar para ficar feliz.
Chorumela...
Na área de serviço tanta garrafa vazia. Ele vai ao samba se o samba é lugar para ser feliz. Olho pra lua e canto. Gim é um gênio. Ele levanta da cadeira e eu sambo, e eu sambo mesmo, se sambar é coisa para ser feliz. Sambo muito, sambo o máximo e sambo e canto olhando pra lua. Tenho os intestinos soltos.
Cabotino.
Volto pra casa e durmo às 9, se inteligente é quem vai pra cama mais cedo, sonho com os anjos...

PARTE 3
E a vida continua, algum tempo. E o apelido de infância...

Prevendo que o pior acontecesse, resolveu não mais continuar. A vida em L? A vida em círculos! E tentamos muito que ele voltasse, a mesma resposta: sábado... era assim. Nas entrelinhas da história não se sabe o que se passou, não se sabe o que ninguém passou, e há cabeças e cabeções; quando perguntávamos se estava bem: cabeção, cabeção... respostas para ele mesmo. E o apelido de infância. Vai se tentar falar da vida de uma pessoa... Se é assim que tem que ser.

ÚLTIMA PARTE – OU DANIEL SE ENCONTROU, QUE LEGAL!
E ele sabe que a vida continua. Cartolina e hidrocor. E os ursinhos eram mesmo uma gracinha... Caso você queira saber mais sobre ele.

sábado eu vou, eu vou...

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