moonwalker

Não concordo com uma pausa do que você disse, mas mesmo assim aos meus trinta anos me levantei sem discutir. Saí com meus passinhos de James Brown pelo salão e com a cabeça rodando senti fundo que era o momento de ir. Procurei como louco pela casa um par de luvas, afinal de contas, eu pensava, não é à toa que tenho um porta-luvas no carro. Chamei o elevador e percebi que precisava de analgésicos ou algo parecido. O elevador desceu em espiral. Entrei, a rua deserta, acelerei, muita coisa ficava em meu espelhinho retrovisor. Pensei, como plano, em andar marcha à ré. Mas, puta-que-o-pariu! Me lembrei das luvas que havia esquecido penduradas no banheiro. Venho, volto, faço uma baliza perfeita e passo pelo corredor como um bom moonwalker. Entro sem precisar da campainha, afinal de contas a casa é minha. As luvas lá. Agora sim. No mais me lembro que vim parar aqui. É confortável, pela janela não reconheço nem um ângulo do cenário; mas, o mais importante, sei que minhas luvas estão em seu lugar apropriado.

Agora é pedir mais uma garrafa. Quando anoitecer, procuro o caminho de volta. Enfim, sei que ainda temos muito a discutir já que esta nossa discussão é infinita, e já é hora de começar a viver mais esta dezena de vida.




Obs.: antes era impossível compreender como poderia ser tão útil esta plaquinha que se pendura na porta avisando: não perturbe. Prometo a partir desta estadia pendurar uma em meu pescoço.

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