maria inês

Maria Inês era poeta, sobretudo, poeta. Fora professora, então aposentada, residente numa casa simples ao final da ruela Castro Alves. Pobre Maria Inês, acordava sozinha, preparava seu café, tomava sozinha, cuidava dos gatos, varria as folhas, ia à venda comprar as coisas para o almoço. Almoçava sozinha. Suas tardes variavam um pouco, mas quase sempre lia, escrevia. Escrevia em cadernos de arame com letra redonda e cursiva.
Maria Inês não era nada bonita, nem na infância. Não lia poetas sujos ou desbocados, os de mais carícia, lia centenas de vezes. Tentava assunto na fila do supermercado, ia sempre pras filas maiores; tentava assunto nos ônibus, pegava os circulares. Maria Inês poderia ter sido freira, mas não, era poeta, sobretudo poeta. Maria Inês achou que seus cadernos ficariam para posteridade, mas após uma leve folheada nos três primeiros por um parente distante foram parar na fogueira do quintal junto com seu colchão, travesseiro e outras coisas.